• Edward Modrake
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    O Príncipe Duas Faces
    Edward Mordrake é um caso raro da medicina. Aristocrata do século XIX, nasceu com uma face atrás da cabeça. Dizia que ela lhe sussurrava coisas que só podiam vir do inferno... Leia Mais...
  • Pacto de Ódio
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    Anjos e Vampiros
    Anjos e vampiros não podem se amar. Mestiços não podem existir. Leia Mais...
  • Creepypasta
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    Portal da Mente
    Um grupo de cientistas se reúne para fazer o inimaginável: estabelecer contato direto com Deus. Entretanto, de uma maneira pouco ortodoxa. Leia Mais...
  • O Sanatório
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    O Sanatório de Waverly Hills
    Um grupo de estudantes de paranormalidade resolve explorar o sanatório mais assombrado do mundo. Você tem coragem para ver o que aconteceu a eles? Leia Mais...
  • Stop Motion
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    Apenas um desenho...
    Até que ponto um simples desenho é inocente? Existem coisas macabras no mundo, e este vídeo certamente é uma dessas coisas. Confira! Leia Mais...

A Dor da Impotência

A Dor da Impotência


Marisa não sabia mais o que fazer. As publicações no jornal não adiantavam, na família só três pessoas possuíam o mesmo tipo sanguíneo de Laura. A pobre coitada sofrera um acidente com o carro, e a perda de sangue só agravou a leucemia que ela tinha. O namorado, que estava dirigindo, não se machucara muito. Mas Laura havia batido a cabeça, e perdeu muito sangue. Ou Marisa, a mãe de Laura, encontrava mais sete pessoas para ajudar com o sangue, ou a garota de 18 anos não passaria da semana, e a dura realidade fizera com que o desespero de Marisa só aumentasse. E os médicos não tinham boas notícias.

-Dona Marisa?

-Sim, doutor? Como está minha filha? Ela vai se salvar?

-Infelizmente temos péssimas notícias. A leucemia se agravou devido a perda de sangue, ela precisa de uma nova medula. Os rins estão parando, estamos fazendo diálise. Se com o sangue em abundância ela já sofria, agora ela está por um fio. Quase teve uma parada cardio-respiratória e se continuar com a imunidade baixa e pegar qualquer vírus, uma gripe extremamente fraca pode matá-la. Sem falar nas fraturas e no possível traumatismo craniano. Desculpe ser sincero, mas só Deus para manter sua filha viva. Uma alternativa que temos é induzir o coma enquanto tentamos curá-la, mas para isso temos que ter uma reserva de sangue para a emergência. As chances dela são muito pequenas.

Marisa começa a chorar desesperadamente. Ela sabia que poderia não ver mais a filha. Era o fim. Eis que pela porta do hospital surgem três pessoas vestindo uma camisa branca e um colete vermelho que continha o seguinte emblema:


Imediatamente, Marisa se atirou aos pés dos homens, chorando freneticamente e disse:

-Me ajudem! Minha filha está morrendo! Por favor!

Os três ajudaram ela a se levantar, e pediram que viessem ajudar a mãe desesperada.

-Senhora, nós vamos te ajudar. Doutor, o que está acontecendo.

Dr. Klaus explicou toda a situação, e assim que terminou, Rafael, o líder dos três, disse olhando para os outros dois:

-Liguem para a sede. Peçam bolsas de sangue tipo O- e vejam na lista de doadores de órgãos se temos alguém para doar um rim. É urgente.

Os outros dois pegaram telefones celulares e saíram em direção a porta de saída do hospital. Dona Marisa agora chorava, mas era de felicidade. Uma luz surgiu no fim do túnel, a filha dela tinha agora uma esperança. Será que ela sobreviveria?

Passaram-se algumas horas. Os dois homens que traziam esperanças a dona Marisa voltaram, mas a expressão na cara deles era muito triste.

-Dona Marisa... não achamos nenhum doador para sua filha, somente conseguimos trazer as bolsas de sangue.

Dona Marisa chorou como se o mundo tivesse desabado.

-Mas vocês ajudam as pessoas! Tem que ter órgãos disponíveis!

-Se dependesse de nós, Dona Marisa, teríamos órgãos suficientes para todo o mundo. A culpa é da população, que é egoísta, que só pensa em si mesmo. Isso é desolador tanto pra você quanto para nós, acredite.

-Minha filha está sofrendo, enquanto há pessoas assistindo futebol na televisão, como se fosse a coisa mais importante do mundo. Minha filha está sofrendo, enquanto há pessoas egoístas. Deus tenha piedade de pessoas assim, por que enquanto eles estão mexendo no computador em joguinhos bobos, assistindo novelas onde só se tem cenas de sexo, minha filha junto com muitas outras pessoas, estão sofrendo. Enquanto há pessoas desejando a morte, minha filha está implorando a Deus por mais um segundo de vida.

Ajude as pessoas, doe órgãos, doe sangue, doe medula, dê mais uma chance a quem precisa!
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Sangue Virgem

Sangue Virgem



Em algum lugar sombrio e frio do mundo...

Já era noite e a tempestade de neve era intensa. Estava muito frio. E eu gostava do tempo frio, afinal eu também era. Estava faminto, há dias não me alimentava direito, então resolvi buscar meu alimento ideal: sangue. Porém não era qualquer sangue, deveria ser de uma mulher pura, uma virgem.


Não precisei andar muito até encontrar uma belíssima jovem. Seus longos cabelos eram negros como a noite e a sua pele branca como a neve que caía. Ela estava adentrando numa rua escura e vazia. Fui até a rua em que ela se encontrava, corri e tomei-a nos braços. Ela gritava, mas ninguém a ouvia. Arrastei-a para uma viela que havia na rua, toquei-lhe sua pele, senti o seu cheiro, procurei o doce sabor da vida que nela pulsava e eu tanto apreciava.


Acariciei-a e em seguida cravei minhas presas sobre seu pescoço, sugando cada gota daquele delicioso sangue. Nunca havia provado sangue mais saboroso que aquele. Não desperdicei uma gota se quer. Terminado, deixei seu corpo que agora estava frio como à neve, na viela que estávamos. Limpei-me e fui para casa, satisfeitíssimo. Lembrar-me-ei do sabor daquele sangue por toda a eternidade.

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O Cilindro se Abre

O Cilindro se Abre


E daquele cilindro sairia uma coisa que mataria muitas pessoas. Talvez todo o mundo fosse destruído. Um complexo sistema de engrenagens abriu a tampa assim que os parafusos se soltaram. Algo me dizia que aquele cilindro estranho poria fim horrendo aos homens.

De dentro daquele recipiente, saiu um gás amarelo, por alguns segundos. A multidão sentiu uma leve tontura que logo passou. Não senti uma coisa muito forte, como alguns outros, mas a tontura chegou a me atingir. De repente, vejo saindo da cápsula uma criatura com forma de uma cobra com duas cabeças e dois pares de asas. O animal tinha três olhos, e pelo que imaginei serem as bocas do bicho, saíam línguas compridas e pontiagudas.

Todos estavam em silêncio, quando bruscamente, a criatura se ergue, evidenciando seus quase dois metros. Então, com sua língua, ela perfura a cabeça de um senhor que estava ao meu lado. Enquanto isso, a outra cabeça decepava braços e pernas de pessoas próximas. A gritaria e correria não podia ser maior. Sangue, ossos e corpos dilacerados se mexendo estavam por toda parte. Terá chegado o fim da humanidade?
   
-Finalmente cheguei em casa. Preciso arrumar tudo e sair daqui! - Disse.

"Enquanto isso, Europa, China, Japão, México, Rússia e Estados Unidos alegam ter recebido a visita de seres extraterrestres que estão matando milhares de pessoas nas grandes metrópoles do mundo. O planeta está em estado crítico."
   
Era o que dizia o último jornal da tarde que talvez eu veria.

"De acordo com o Comandante das Forças Armadas dos EUA, Sag Latrom, nenhuma arma testada foi comprovadamente eficaz contra a invasão alienígena. Ele também aconselha as pessoas a se refugiarem em suas próprias casas."

Quartel 12, ala D. Área 51, EUA.

-Comandante! A operação EM não está andando como planejado!

-Merda. Em poucas horas, uma febre mortal vai atingir os infectados, aumentando as ilusões que viram até agora. Quando finalmente não aguentarem mais, vão se matar e a bactéria presente no corpo deles vai se espalhar pelo ar e contaminar outras pessoas. Erramos em desafiar o mundo, em desafiar a natureza. Finalmente o homem aprenderá a não subestimar o que não conhece. Nós causamos isso, e infelizmente não há cura. A natureza, quando agredida, não revida. Ela se vinga. 

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Sim

Sim


Na rua deserta e umedecida pela fina garoa que caía, caminhava a passos largos o homem franzino conhecido como T. Sua pressa tinha um único motivo, não queria perder de forma alguma o jogo do Knicks, torcedor fanático que era. Fez o serviço com a destreza habitual já conhecida por seus clientes que o contratavam a peso de ouro, pagamento adiantado como de praxe, problema algum para quem escolhia um homem com tanto respeito no submundo.
No caminho gabava-se de quão bom era, a encomenda fora mais fácil que pensava. Não havia motivo para tanta preparação para apagar Andy Baley, um burguesinho de merda metido em dívida de drogas. É claro que a coleta que tinha com as prostitutas de luxo facilitava, conseguia informações valiosas, e suas vítimas eram pegas por seguir sempre o mesmo roteiro: jogar nos cassinos, se entupir de drogas e depois trepar com algumas garotas em um hotel qualquer. Riu, ao lembrar-se do idiota se borrando todo, com a 45 enfiada até o talo na garganta. E a arma ainda quente, lhe aquecia confortavelmente a perna.

Ao quebrar o primeiro quarteirão, deparou-se com alguns mendigos amontoados no beco, tentando vencer o frio com uma pequena fogueira. Passou sem ser molestado, o povo da rua conhece o perigo de longe, fareja a morte iminente como um cão ao seu alimento.

Mas antes que pudesse deixar para trás o cheiro fétido e nauseante do local, teve seu braço segurado. Os dedos coçaram para sacar sua arma, mas se conteve e apenas com um movimento brusco puxou aquele que o abordara ao encontro dos punhos.

Seus músculos relaxaram ao ver que era apenas uma velha, imunda e maltrapilha.

-Não tem esmola hoje!

-Na-Não quero esmolas moço. – disse a mulher pressionada no paredão gelado. – Quero apenas lhe dar um recado que o vento me trás.

Ele riu. 


-Velha louca! Então conversa com o vento? Não seja tola! Hoje poderia ter sido seu último dia de vida.

-Apenas escute a mensagem, moço.

- Além de louca é burra? Não vê que ainda respira por pura benevolência minha? Tua sorte é que hoje estou sem tempo. Vá! Volte para o esgoto de onde veio. – disse ele batendo a cabeça dela contra a parede.

A mulher, atordoada, saiu do caminho, mas antes que ele sumisse de vista, gritou:

-Sim! Sim!

A vontade dele era voltar e descarregar sua arma na cabeça da maldita mulher. Mas já era tarde e não podia perder o jogo. Seguiu para o metrô, que naquela altura estava completamente vazio. Sentou-se confortavelmente encostado na janela, duas estações e estaria enfim a poucos metros do bar onde freqüentava. Na parada da primeira estação entrou uma criança e sentou-se ao seu lado, T. estranhou ao ver o menino, o qual julgou ter no máximo dez anos, sozinho.

-Garoto, não está fugindo de casa, está?

O menino, branco como leite e trajado com um terno mal costurado, sequer olhou para ele.

-Muito bem! Sua mãe deve ter lhe ensinado para não dar conversa a estranhos.

Notando que o garoto não estava mesmo querendo papo, ou sofria de algum problema auditivo, virou-se para a janela. Sentiu um calafrio lhe percorrer a espinha, ao perceber que não havia no reflexo do vidro o pequeno companheiro de assento. Virou-se novamente para o menino e este com os olhos negros como a noite, berrou de forma descomunal.

-SIMMMMMMMMMMMMMMMMMMM!

Quase saltou do banco, e praguejou ao ver que estava sozinho no vagão. - Mas o menino, o menino... Foi tão real. Só podia ter cochilado... Mas fora tão real e tão... tão... assustador! Definitivamente aquela noite lhe parecia estranha. Queria chegar logo ao seu destino.

Na saída do metrô, suas pernas ainda tremiam. – Porra, era só um garoto! Era só uma merda de pesadelo. Bruxa filha da puta, devia ter quebrado-lhe os dentes. Não! Não! Devia ter-lhe rachado a cabeça.

No bar, enfim sentiu-se em casa, lá havia rostos familiares, por mais que T. fosse reservado, ali se soltava e trocava até algumas palavras com o balconista. Após o cumprimento amigável, foi servido com o velho Black Label de todas as noites, o gole desceu suave, seguido por um demorado trago no cigarro. E na tevê postada em um suporte no canto do bar, os Knicks entravam em quadra. Era um jogo decisivo, poderia levar seu time à tão sonhada decisão se passasse pelo Suns. Ele ficou tão preso ao jogo que pouco reparou (e foi o único no recinto que fizera isso) na loira de quase dois metros que adentrou no bar, trajando um tomara-que-caia preto. Mas essa não tirava os olhos dele, e com um gesto chamou o atendente do bar; este, após atendê-la, voltou ao balcão e sussurrou no ouvido de T:

-Amigo, desculpe atrapalhar, mas creio que seja por um ótimo motivo, aquela loira maravilhosa que está sentada ali no canto, pediu que lhe entregasse este bilhete.

Ele pegou o bilhete, e apenas sorriu discretamente. Tomou o resto do uísque que havia em seu copo, e o abriu. Dessa vez o gole pareceu travar na garganta tamanha a surpresa da mensagem. Em escrita bem consolidada apenas três letras recheavam o pequeno papel: SIM.

T. virou-se para a mulher, e ela retribuiu com um largo sorriso. Intrigado, levantou e foi em sua direção, mas fora atrapalhado por alguns jovens que se amontoavam para ver o jogo. E nesse piscar de olhos a perdeu de vista. Olhou apressadamente por toda a parte, e mesmo os olhos treinados de um assassino frio e cruel não puderam localizá-la. Ela havia partido, e agora ele não estava delirando, se é que em algum momento estivera. O pequeno bilhete ainda estava em sua mão.

Sentiu-se parte de uma brincadeira piegas, ou será... Será que alguém notou o seu pequeno serviço noturno? Estava confuso. E aquela situação atiçou seu nervosismo de tal modo, que fora meio que “sem prestar atenção em nada” para o banheiro. (Mantenha o controle. Mantenha o controle. Ninguém pode detê-lo. Você é o melhor no que faz. O melhor!)

O pequeno banheiro do Massive’s Night, não era diferente dos banheiros de bares de qualquer subúrbio. A luz fosca amarelada dava um ar ainda mais sujo ao lugar, o cheiro de urina velha, misturada com um desinfetante barato qualquer, ardia nas narinas de qualquer um que ali adentrasse.

Abriu sua calça e aliviou-se naquele mictório mal-cheiroso. Antes de lavar as mãos, retirou algumas folhas de papel toalha para cobrir sua mão. Não queria se contaminar com bactérias vindas de “paus sebosos”. Abriu a torneira e encheu as mãos, lavando em seguida o rosto, repetiu isso por duas vezes, e com os olhos fechados tateou o porta-toalhas. Enxugou o rosto com o papel, e quando abriu os olhos não viu apenas sua imagem. Além do seu reflexo, havia no espelho, escrito a dedo no vidro pouco embaçado, a palavra SIM. Passou as mãos sob a cabeça raspada, para enxugar as pequenas gotas repousadas, meteu a trava na porta e sacou sua pistola, antes de conferir se havia mais alguém ali.

(Vocês não vão me pegar! Não vão! Estouro seus miolos antes que respirem, antes mesmo que possam piscar)

Guardou sua arma novamente e saiu do banheiro. Desconfiando de todos que ali estavam, pagou sua conta, deu uma pequena conferida no jogo e saiu apressadamente. Sua cabeça estava a mil com tudo aquilo, e ele só queria ir para casa.

Em sua mente uma voz estranha começou a sussurrar:

SIM! SIM! SIM! SIM!

Ele, no desespero, começou a andar mais e mais rápido, e aquela voz martelava em sua mente, em um ritmo cada vez maior. Ao passar em frente a uma loja de eletrônicos, teve a impressão de ver em todas as telas a mesma mensagem.

Com o susto atravessou a avenida, e distraído não percebeu o Maverick azul que dobrara a esquina em alta velocidade, seu corpo fora atirado com brutalidade e seu sangue coloria de vermelho a calçada cinzenta.

Estava consciente e sentia que não ia escapar com vida dali, pensou na ironia do destino, morrer de uma forma tão banal, pois, para um matador de aluguel como ele, morrer assim era quase uma humilhação.

Quem o atropelou nem sequer parou para prestar socorro, e ele ficou ali, estirado por um longo tempo, sentindo a morte chegar lentamente.

Tempo suficiente para ver sua vida passar como um filme, desde a infância até aquela noite, quando após subornar o zelador do hotel, entrou no quarto 105, e encontrou seu alvo completamente distraído na banheira, ele aguardava sua acompanhante. Mas mal sabia que essa, além de não aparecer havia lhe entregado para seu executor.

-Serviço de quarto... – disse T. apontando a arma para Baley.

-Q-Quem é você?

-Você deixou alguém muito, mas muito aborrecido garoto.

-Mas..

-CALE A BOCA! CALE A MALDITA A BOCA, OK?

(silêncio)

-Isso, assim está bem melhor rapaz. Agora onde eu estava? Ah sim! Você deixou alguém muito aborrecido, e essa pessoa me pediu que viesse dizer isso a você. Mas, sabe como é, não sou muito bom com as palavras.

-Na-Não pelo amor de D...

-CALE-SE! – enfiando a arma na boca do rapaz – Não sou bom com as palavras, e vou resolver do meu jeito. Vou mandar você para o inferno. Quando chegar lá, pergunte ao diabo se tem um lugar para mim...

Nas ruas, as pessoas começavam a chegar aos montes, gritando, se abraçando. Os fogos coloriam o céu. O Knicks havia vencido. Mas para T. isso não faria diferença... Era o fim da linha para ele. E a mensagem tão repetida naquela noite agora fazia sentido.
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O Mistério da Coisa

O Mistério da Coisa


1965


Chuva, clima pesado. Era o início das minhas investigações, e eu tinha que achar alguém que me desse algo decente. Claro, o Frank's Bar era o único aberto a essa hora, e o dono devia estar lá, esperando algum cliente ou alguém como eu.



-Como vai Frank?


-Ora, ora! Se não é o J.J.! O que faz aqui, meu amigo?

-Vim procurar trabalho. Minhas investigações andam em baixa. Sabe como é, hoje em dia muitas coisas mudaram.

-Com certeza. E então, o que vai ser?

-Black Diamond... puro!

-Boa escolha!

Frank era um gênio... 98% retardado, 2% gênio.

-Prontinho, aqui está. Elementar, meu caro J.J.! Está la fora o que procura:

Eis o mistério da coisa

Um letreiro luminoso do Motel Light dizia essas palavras. 

-O que isso significa Frank?

-Bem, se na palavra "coisa" a gente tirar o "o" e colocar o "a" em seu lugar, temos a palavra "cais". O mistério está no cais!

-Mas e o resto da frase?

-Você vai lá ou eu vou ter que ir?

Como eu disse, ele é um gênio! Chegando no cais, encontro ela, a musa fatal. Carline.

-Demorou, meu doce.

-Sempre aprontando, não é, Carline?

-Sabe que preciso. Não vamos demorar mais! Venha comigo.

-Aonde vamos?

-No cemitério, é lógico.

Chegando lá, ela me mostrou a tumba de uma pessoa que eu conhecia bem. Uma pessoa muito familiar. Wild Bill Henks foi um grande fazendeiro da região. Realmente, vovô Bill era bem rico, até que veio um invejoso chamado Bamouà, um francês que estava vivendo e ganhando popularidade as custas de meu avô, e o matou. 

-Já decifrou o enigma, J.J.? Seu avô gostaria que você descobrisse. 

-Sim. Foi difícil entender e juntar as peças do quebra-cabeça. Deve ser por isso que nos livros de meu avô, ele nunca colocava um "fim" nas histórias. E deve ser por isso que esta história ainda não terá fim e meu vô será dignamente vingado.
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Pacto de Ódio

Pacto de Ódio - Capítulo III



No segundo intervalo das aulas, Lucian estava sentado num canto isolado do pátio, no chão, olhando incrédulo para os dois idiotas, que pareciam se conhecer a anos, rindo feito amigos de infância. Ele sentiu uma pontada de raiva “como aquele maldito conseguiu...? Em tão pouco tempo?”

O vampiro mordeu os lábios com força, socou o chão com violência e fechou os olhos, inclinando a cabeça para cima e batendo-a repetidamente na parede. Quando abriu os olhos, o choque com o sol das 11 da manhã o fez estremecer e abaixar a cabeça rapidamente, encarando seu All Star preto e rasgado. Isso não vai ficar assim, definitivamente não vai!

•●†●•

-Então, quer dizer que você foi adotada quando tinha seis anos?

-Ah, pois é, eu tive sorte nisso... meu pais são muito bacanas.

-Hm...

Aquele silêncio era mais desconfortável para Lauren do que Andrew podia imaginar. A garota evitava olhar em seus olhos, e parecia constantemente trêmula e indecisa, gaguejando e muitas vezes ficando sem palavras. Como agora.

O anjo riu discretamente. De forma sutil, se aproximou do outro no banco e segurou em seu queixo, obrigando-a, mesmo que de forma delicada, a olhar em seus olhos. Aquilo fez a mestiça ficar tensamente corada, ao mesmo tempo em que não conseguia encontrar – novamente – palavras para demonstrar seu espanto.
   
Ela sentiu arrepios subindo em suas pernas, acariciando seu peito e arranhando suas costas; acelerando ainda mais seu coração quando sentiu a boca do outro aprofundando-se na sua. Sua respiração falhava; as mãos do outro escorregavam em seus ombros e os arrepios ficavam menos inocentes. O beijo ficava menos inocente e os toques também.
    
O vampiro entrou na sala enfurecido, apanhou sua mochila e saiu da escola pelos fundos, bufando de raiva.
   
“Maldito desgraçado! Com ousa? Como... ele consegue fazer essas coisas? Não! Eu não vou perder para ele, não vou! Urgh, e essa mestiça de merda? Caiu logo de primeira na dele, o infeliz! Eu vou virar esse jogo, hoje mesmo!”

•●†●•

-Até amanhã, Lauren – disse o anjo, com seus olhos azuis mais hipnóticos do que nunca. O outro abriu a boca, mas não chegou a responder. Quando encerram o beijo, Andrew deu seu último sorriso e virou-se para ir embora.
   
Até o instante em que o anjo passou pelo portão, os olhos cor de mel ainda o acompanham. Lauren saiu de seu transe e começou a andar até o banheiro. Que loucura eu estou fazendo! Mal o conheci e já estou... ah, meu Deus! Droga, droga, droga! Eu só me fodo nessa droga de vida! Será que isso pode piorar?
   
Antes de terminar seu pensamento, sentiu alguém o observando pelo reflexo do espelho. Ela levantou a face e deu de cara com um garoto pouco mais alto do que ela, de vestes escuras e acessórios prateados. Ele não parecia ser um total desconhecido, mas Lauren não fazia idéia de onde o conhecia, e nem como ele havia surgido assim, tão sorrateiro, atrás de si.
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Contos e Encontros Anormais

Contos e Encontros Anormais - Capítulo VII


-Dona Dilma, tem certeza que isso deve ser feito? Falei com Miranda e ela me disse que está tudo sobre controle, que foi apenas um acidente. Infelizmente nossa escola está passando por problemas incomuns, porém certamente são apenas coincidências. Não é por que um aluno viu algumas coisas num livro bobo e...

-Olha, você está incrédulo demais. Quando você conseguir me provar como vidros de um andar inteiros podem estilhaçar contra outras pessoas de uma só vez e sem ninguém fazer nada, você pode me dizer que essas situações são apenas vandalismos. - Disse a diretora, já recuperada de seus ferimentos, ao coordenador escolar.

-E como medida cautelar você quer ter como base um livro de paranormalidade? O que ele pode oferecer?

-Já apresentei meus motivos, e estamos sem escolha quanto a isso. Aquele garoto que Miranda esbarrou vindo pra cá, o Heitor, diz que tudo parece fazer muito sentido, tirando o fato que ele tem pistas e provavelmente provas do que está acontecendo. Veja bem, Danilo, se isso não der certo partiremos para as soluções convencionais. O que pode dar errado?

-O que pode dar errado? Com essas coisas não se brinca, Dilma. Espíritos, fantasmas, demônios, seja lá o que for. Se você realmente está decidida a tentar esse tipo de coisa, que faça. Mas faça com cautela!

Dilma olhou para as mãos quase totalmente cicatrizadas e se lembrou do ocorrido algumas semanas antes. Os vidros da sala do Grêmio explodiram na frente dela, deixando marcas em suas mãos e braços quase curados. Poderia ter sido pior, no fim das contas.

Miranda e Heitor aguardavam na sala ao lado da direção, conversando sobre o que Heitor fazia com o livro e por que o pegara.

-Olá dona Dilma. Quer falar com Heitor? - Disse Miranda.

-Sim. Por que você pegou esse livro? - Interrogou a diretora, séria.

-Bom, há alguns meses eu estudei um pouco de paranormalidade e algumas coisas que aconteceram aqui batem com infestações espirituais. Aí eu fui até a biblioteca perto de casa e encontrei esse livro e comecei a lê-lo. Vocês notaram tudo que aconteceu até agora? Vidros explodindo, uma professora morreu num laboratório de informática e outra caiu da janela do laboratório de química. Sem contar a professora Cíntia que desmaiou no mesmo laboratório como se tivesse visto uma assombração. Diretora, isso tudo têm ligação, é impossível não ter!

-E como você sabe disso? Que provas você tem? - Indagou Miranda.

-Quando eu esbarrei em você, detetive, eu estava correndo para a biblioteca pois creio saber por que tudo isso está ocorrendo!

-Como assim? - Disse Danilo, o coordenador.

-Eu estava no primeiro andar do Bloco 2, olhando para as entradas de trás do bloco quando eu descobri a lógica de tudo isso. Vocês notaram que tudo que aconteceu até agora se passou aqui neste bloco? Absolutamente tudo ocorreu aqui, e com certeza deve ter algum motivo para isso. 

-Muito bem, e quanto tempo você acha que vai demorar para descobrir alguma coisa? - Perguntou Dilma.

-Talvez uns dois dias... até sexta-feira terei alguma coisa, mas talvez eu precise de...

-Eu posso ajudar. 

Na porta da sala, um homem alto, grisalho e muito robusto estava com cara de sério. Sua camisa enfiada dentro da calça apenas reafirmava sua forma grande, porém sabedoria brotava de seus olhos.

-Suponho que meus conhecimentos sejam suficientes para ajudar. Garanto que, se for possível, ajudarei o máximo. 
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Contos e Encontros Anormais

Contos e Encontros Anormais - Capítulo VI


17:53 h - Laboratório de Química, segundo andar, Bloco 2.

-Assim que a solução começar a entrar em ebulição, apaguem o bico de Bunsen e não toquem no béquer. Deixem em cima da bancada que amanhã na primeira aula iremos verificar o que ocorreu. Podem sair.

Em grupo, os alunos saíram do laboratório e se dirigiram para a sala de aula, onde arrumariam a mochila para encerrar mais um período letivo. Enquanto isso, no laboratório, a professora Lourdes debruçava sobre o diário de classe, anotando o tema da aula, notas e faltas. 

Vestida com uma simples camisa branca e calça jeans, junto com o avental característico do laboratório, Lourdes estava estressada a um ponto exaustivo. Eis que então, para coroar o dia, um temporal desaba sobre a cidade. Com as janelas abertas, rapidamente alguns equipamentos ficaram encharcados. Vendo a situação, a professora saiu correndo pela sala e tentou fechar as grandes janelas do laboratório. Sem sucesso, subiu numa cadeira e tentou destravar a porta corrediça que estava emperrada, quando então uma rajada de vento a desequilibrou. Abalada, Lourdes precipitou-se em direção ao ar livre, porém em tempo conseguiu abrir os braços e impedir uma queda mortal. Pelo menos naquele momento. A cadeira na qual subira molhara e não era mais a sustentação ideal para alguém do porte da professora. Os pés vacilaram por um segundo, e todo o equilíbrio de Lourdes esvaíram-se como num passe de mágica. Inclinada para o parapeito, precipitou-se em direção ao solo como uma frágil casca de noz. Assim que seu corpo bateu no chão, de costas, raios e trovões rebombaram no céu escurecido da cidade. Então, uma tênue voz saia da boca da professora estatelada, indicando que ainda estava viva. No laboratório, uma figura aparentando meia idade, com tipo baixo e robusto e com cabelos curtos e grisalhos olhava fixamente para a janela pela qual a professora caíra. Então, mais raios e trovões povoaram o céu com estrondo e a aparição sumira tão rápido quanto aparecera. 

-Lourdes? Lourdes? Nossa, que gelado... - Cíntia, a auxiliar laboratorial, começa a procurar pela professora. Notando as marcas da chuva e a cadeira próxima à janela sendo encharcada, resolve fechar a janela. Assim que se aproxima dela, vislumbra com terror o corpo estatelado da professora do lado de fora do bloco, e dá um grito esganiçado. - Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhh!

Virando-se, Cíntia encara talvez a coisa mais horripilante que já vira em sua vida. Uma forma negra flutuante estava a poucos passos dela, com cabelos vermelhos que mais pareciam tentáculos saindo do que deveria ser a cabeça da criatura. Uma espécie de braços super finos estavam colados próximos ao corpo da aparição, de modo que os tais tentáculos eram a única coisa se mexendo. Em sua face, dois olhos sem vida fitavam a professora. Então, um grito horripilante se faz ouvir, e a última imagem que Cíntia vê antes de desmaiar é a de alunos entrando no laboratório para socorrê-la. Enquanto isso, ajuda chegava à professora estatelada no chão do lado de fora do bloco. 

No mesmo momento, Miranda virava no corredor que saía da biblioteca para ir ao Bloco 2 quando trombou com Heitor, correndo com um livro na mão e completamente assustado. Na capa preta do livro, em letras garrafais estava grafado "Estudo Aprofundado em Parapsicologia e Paranormalidade". Na cara assustada de Heitor, um semblante de horror incomum estava estampado como se ele tivesse visto um fantasma. Talvez isso realmente tenha acontecido.
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Pacto de Ódio

Pacto de Ódio - Capítulo II


-Traidores! – gritou o mestre – Todos vocês! Sabem o que pode acontecer com a mistura de raças, e ainda tentaram esconder a verdade de mim! Vocês desonraram o nosso clã! E você, Susan, é a principal culpada, pois instigou a sua família a esconder Lohane e o humano. Você era a melhor amiga daquela traidora, não tem como negar!

-Mestre, se pudermos fazer algo... – sussurrou o homem, sua esposa se moveu ao seu lado, trêmula.

-Não. Vocês não, meus caros amigos traidores – o líder caminhou lentamente até a menor silhueta entre os membros presentes, o garoto permaneceu inerte – Lucian... faz uma semana que você atingiu a maturidade como vampiro. Seus poderes começaram a fluir, não é mesmo? – o garoto não respondeu.

-Logo, o mestiço também fará quinze anos, no dia 13 do mês que vêm. E quero que você, meu caro Lucian, traga-o até mim, antes que nossos inimigos o encontrem. Vamos trancafiá-lo em nosso laboratório de pesquisas.

-Não, mestre, por favor... – implorou a mulher – nossos inimigos, por favor, não...

-Se você falhar - o mestre dirigiu-se ao garoto, ignorando a moça - mato sua família traidora. O que me diz Lucian?

O garoto levantou o rosto e encarou os olhos ônix e rutilantes do homem. todos a sua volta tremeram.

-Não vou decepcioná-lo, mestre.

•●†●•

Uma luz dourada invadia todo o pátio florido, acima do sol e das estrelas, refletindo sob as águas límpidas de uma bela fonte de ouro, que o som de suas gotas compunham uma melodia calma e terna, capaz de acalma qualquer um. Qualquer um, menos Andrew.
O garoto andava apreensivo de um lado para o outro, fincando as mãos entre os cabelos anelados e curvando seu corpo para frente, arqueando junto, suas belas asas. Logo a frente um abismo, onde de hora em hora o garoto espiava sob as nuvens, soltando palavras desconexas na medida em que o tempo ia passando, tão tortuosamente rápido.

Quando um voz masculina e madura o despertou de seus devaneios, o anjo parou de falar sozinho e encarou o rapaz mais velho, com uma expressão nada feliz.

-Eu não quero ir, Ariel. Será que vocês não entendem? Eu quero ficar aqui... Por que não escolhem outro? – indagou o garoto, sua face ainda mais corada do que o normal.

-Tem que ser você, é o seu destino – o rapaz parou frente a Andrew, com um sorriso sereno nos lábios – Outros não farão com o mesmo êxito, que sei que você fará.

-Mas eu não quero, Ariel...

-Não está em questão o que você quer – enfatizou, sem soar rude, e logo em seguida disse - apenas faça-o.

O garoto suspirou derrotado.

-Vou ter que arrancá-las? – ele olhou pesaroso para suas branquíssimas asas.

-Infelizmente sim – o mais velho tocou a parte da asa mais próxima das costas do garoto – Mas quando você precisar, poderá usá-las... Esporadicamente, certo?

O anjo fechou os olhos e mordeu os lábios cor de cereja com força, quando, num movimento ágil o bastante, Ariel arrancou suas asas, desprendendo-as lentamente de suas costas, como quem rasga uma folha de papel. O garoto berrou de dor, e berrou ainda mais quando viu suas asas caindo ao chão, num som oco e vazio. Lágrimas escorriam de seus olhos, mas ao contrário do sangue em suas costas, elas não foram sugadas pela pele, e não sumiram como se nunca tivessem existido.

-Até breve – sussurrou Ariel, ao empurrar Andrew para dentro do abismo, vendo o garoto pouco a pouco sumindo entre as nuvens.
Você vai nascer numa família bastante conturbada, mas não se desvie do seu caminho, Andrew, você deverá encontrar o seu humano antes do dia 13 de outubro. Você tem 14 anos para encontrá-lo, e mesmo que as coisas se distorçam... nunca se esqueça de quem você é.

•●†●•

Por onde passava, era seguido por olhares intrigados. Suas roupas inteiramente negras possuíam uma grande variedade de correntes, cruzes e metais. Os cabelos negros eram lisos na medida certa, e tão próximos da perfeição quanto sua pele, anormalmente pálida, seus lábios estranhamente vermelhos e seus olhos, perfeitamente verdes.
Lucian andava despreocupadamente pelo corredor daquela escola, com as mãos nos bolsos e fone nos ouvidos. Quando alguém ousava desperta-lo de seus preciosos devaneios, o garoto levantava sua mão cheia de anéis, e mostrava o dedo médio. Isso bastava.
Ele entrou na sala de aula, e como de costume, sentou na última cadeira, alheio a qualquer futilidade ao seu redor.

•●†●•

Por onde passava, era seguido por olhares intrigados. Suas maças do rosto possuíam um tom naturalmente rosado, e as mechas aneladas de seu cabelo eram claríssimas e loiras. Sua boca também era rosada, e sempre munida de um sorriso terno  agradável, tão sincero quando seus vívidos olhos azuis.

Andrew usava roupas simples e pouco chamativas, mas sua postura era elegante ao mesmo tempo em que despreocupada. Quando alguém ousava insultá-lo por algum motivo, ele sorria, sorria de um jeito tal que desmontava qualquer ofensa, e quem a proferia.
Ele entrou na nova sala de aula, ainda ausente de professor, e antes mesmo de pensar em qualquer coisa, seus olhos pousaram sob a criatura inerte que o encarava, com olhos tão vazios quanto o de um vampiro.

Os olhares se cruzaram ameaçadoramente, e mesmo jamais tendo se visto, eles se reconheceram de imediato. Lucian deixou seus lábios levemente entreabertos, apenas para que seus caninos pontudos ficassem a mostra, de forma ameaçadora. Andrew estreitou os olhos, sua sombra na parede expunha a forma perfeita de asas saindo de suas costas, arqueadas de forma defensiva.
Os humanos ao seu redor não percebiam a troca de olhares e as ameaças mentais que ambos trocavam, e se comportavam como se nenhum dos dois existissem – eles por sua vez, sabiam que os humanos também não tinham importância naquele momento.
Mas algo ali no meio fez com que ambos, vampyro e anjo, parassem de se encarar. Tão perto e tão longe um humano estava sentado, conversando animadamente com um amigo. A mestiça era pálido e tão belo como qualquer outro do clã.

O anjo se sentou ao seu lado, e o vampiro, às suas costas. Cada um pensava na maneira mais fácil de se aproximar da mestiça, mesmo que de maneiras completamente opostas.

-... então, classe, reúnam-se em duplas e resolvam os exercícios das páginas 50 a 65. Em silêncio, por favor – o professor de matemática dirigiu-se até a sua mesa e se sentou, absorto em seu livro de trigonometria.

Andrew e Lucian se levantaram no mesmo instante.

-Posso fazer com você? – sussurrou o garoto loiro para a mestiça, quando o vampiro havia aberto a boca para fazer a mesma pergunta.

-Claro – disse apenas. Com um sorriso vitorioso, o anjo sentou-se ao lado do garoto, sem deixar, é claro, de lançar um olhar zombeteiro para o vampiro que lhe praguejava mentalmente.

-Ahm, seu nome? – perguntou timidamente a garota, passando as mãos sob as mechas castanhas e lisas, que caiam nos olhos cor de mel, perdidos na face rosada do garoto a sua frente – que na sua opinião, era estranhamente semelhante aos anjos em cartões de Natal que via no orfanato.

-Andrew – ele disse, esbanjando aquele sorriso capaz de derreter até o inferno – E o seu?

-Lauren – respondeu, sentindo-se imensamente idiota por ter corado, e mais idiota ainda porque o outro riu da sua reação estúpida.

•●†●•

Humana, alto estima meio baixo, sem muitas expectativas para o futuro, levemente tímida, sutilmente efeminada. Gosta de ler, colecionar cromos de álbuns de figurinhas e pôsteres de banda. Facilmente manipulável, não tem muitos amigos fixos.
Perfeito! Eu posso lidar facilmente com essa garota, contanto que "aquela" pessoa não se aproxime dela. Mas é claro que não vou deixar, vou colar nela que nem chiclete.
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Contos e Encontros Anormais

Contos e Encontros Anormais - Capítulo V


Uma fila enorme se formou em direção ao Bloco 3, seguindo até o estacionamento inferior da escola. Miranda Scarlet pedira autorização à direção para realizar tal feito, a fim de pedir explicações aos alunos que poderiam ter vivenciado os últimos acontecimentos. No começo da fila, que calhava na última sala do Bloco 3, quatro alunos eram chamados por vez, onde apresentavam histórias do que havia de fato ocorrido.

Após uma hora e meia de falatório e pequenos depoimentos, Matheus parou em frente a Miranda com cara de assustado. É o mesmo garoto que desceu as escadas correndo avisando sobre o corpo da professora Fernanda no laboratório de informática. 

-Qual seu nome e idade? - Disse Miranda.

-Matheus Villalobos Braz, 17 anos.

-Terceiro ano, Matheus?

-Segundo, fui reprovado no ano passado.

-O que tem a dizer sobre o que presenciou? Como achou o corpo da professora Fernanda no laboratório?

-Fui pegar um trabalho que havia deixado com ela num pen-drive e quando entrei na sala ela estava daquele jeito horrível. - Sua pele adquire um tom verde, o que mostra claramente que o nojo retorna à sua lembrança.

-A garota que estava com você também foi junto?

-Sim, a Jaqueline estava comigo na hora. Ela foi buscar a nota da última prova que fez, e fomos juntos. 

-Viram alguma coisa de errado no ambiente do laboratório? Algo que sugerisse briga ou invasão? - Pergunta a perita, examinando cada traço facial de Matheus.

-Bom, tirando o fato que estava muito gelado no laboratório, não vi nenhum sinal de briga, mesmo por que havia apenas cinco minutos passados do fim da aula. Tínhamos praticamente acabado de sair, não daria tempo de ter uma briga e ninguém perceber.

-Havia algo de anormal no corredor? Alguém correndo ou com cara suspeita?

-Não, estava tudo normal. Pelo menos não notei nada fora do comum.

-Muito bem, isso já basta. Assine essa lista aqui ao lado e está dispensado. Tente não falar do caso para não alardear boatos, se possível

Matheus assinou a lista e se retirou, e logo foi seguido pelos outros três alunos que também estavam na sala falando com outros ouvidores. Na próxima chamada da fila, mais quatro estudantes entraram na sala para prestar depoimento sobre o que havia ocorrido. Entre eles, estava Heitor.

-Nome e idade, por favor.

-Heitor Nicolau Olivare, 16 anos.

-Segundo ano?

-Sim senhora.

-O que você tem para relatar?

-Na verdade não muita coisa... eu estava no Bloco 2 quanto aquele casal desceu as escadas berrando sobre um corpo. Então, subi junto com outros alunos e vi o corpo da professora no laboratório. Foi horrível.

-Aposto que foi. Notou algo de estranho no laboratório, algo que pudesse sugerir alguma discussão com violência?

-Não, nada parecido. 

-Como estava o clima do laboratório?

-Como é? - Pergunta Heitor, sem compreender o sentido da pergunta.

-Sensação térmica. Qual era?

-Bom, agora que paro pra pensar lembro que estava extremamente frio. Um frio absurdo, pra falar a verdade.

-Tem certeza que vinha do laboratório? Não era alguma janela do corredor que estava bem aberta?

-Não, tenho certeza. Esse tipo de frio é típico do inverno, por isso achei estranho. Parecia que somente o ambiente do laboratório estava com uns graus a menos. 

-Algo mais a declarar?

-Vocês já pensaram em outras possibilidades? Algo fora do comum?

-O que está sugerindo, Heitor? Como assim fora do comum?

-Algo que não possa ser totalmente explicado. As janelas do bloco explodindo de uma vez, uma professora morta de forma animalesca e um frio absurdo num laboratório... isso é estranho.

-Lidamos apenas com fatos, e os fatos apontam que estamos no caminho certo com a investigação. Demoraremos a descobrir o que houve por aqui, mas descobriremos cedo ou tarde. Agora, se não tem mais nada a acrescentar, assine a lista e está dispensado.

Heitor pegou a caneta e assinou a já usada lista de depoimentos de Miranda. Se dirigindo para fora da sala, foi até a biblioteca da escola se juntar aos amigos para discutir sobre o ocorrido.

-O que você disse, Heitor? - Perguntou Karol.

-Apenas o que presenciei. Mas tem algo muito errado nessa história... O clima no laboratório estava absurdamente frio, praticamente insuportável.

-Ah sim, os ares-condicionados devem permanecer resfriando o laboratório por causa das máquinas... - Explicou Leonardo.

-Sim, é verdade. Acontece que antes da professora morrer, deixaram eles ligados por tempo demais e acabaram queimando. Os ares-condicionados não estavam funcionando na hora que a professora morreu!

-Então como a temperatura estava tão baixa? - Perguntou Nayara.

-Ainda não sei, mas tenho uma pista que me diz como descobrir!
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Pacto de Ódio

Pacto de Ódio - Capítulo I



O sentimento crucial que une dois inimigos pode ligá-los para sempre. E se distorcer conforme o tempo. Anjos e vampiros não podem se amar. Mestiços não podem existir.

As estátuas acinzentadas de anjos e santos pareciam ainda mais melancólicas vistas daquele ângulo, envoltas por uma névoa densa e espectral, e sob a luz de uma lua cheia amarela - que aparecia e sumia entre as nuvens negras.

Um grupo pequeno de mais ou menos dez pessoas caminhava entre os túmulos, com suas capas negras esvoaçando conforme seus passos. Quando se aproximaram do ponto mais antigo do cemitério, onde somente as criptas e as gavetas ficavam instaladas, eles formaram uma meia lua, deixando apenas um homem ao centro.
Sua expressão era felina e ameaçadora; a cabeça inclinada para baixo e as mechas negras caindo sob o rosto pálido, com os olhos escuros arregalados de um jeito acusador, mirando cada uma das silhuetas a sua frente. Todos os familiares permaneceram inertes.

- Vocês sabem por que estão aqui? – disse o homem, com sua voz rouca e suave – Sabem por que os convoquei esta noite? – todos negaram levemente com a cabeça – Pois bem, chegou ao meu conhecimento uma notícia um tanto... desagradável. Há quatorze anos, quando a jovem Lohane resolveu quebrar nossas regras e fugir com aquele humano, vocês lembram? Sim, claro que lembram, foram vocês que a acobertaram, não é? – todos de moveram, desconfortáveis – Mas vejam só, meus amigos, a imprudência dela a levou para o túmulo, junto com seu pútrido e amado humano, fato que comprova o que acontece com quem desrespeita as minhas regras. No entanto, recentemente chegou ao meu conhecimento que Lohane estava grávida naquela época – ele parou frente a uma moça de longos cabelos castanhos – Alguém nega que sabia disso?

-Mestre, achamos que...– sussurrou a mulher, mirando o chão sem piscar – achamos que o bebê havia morrido também.

-Olha só, vocês sabiam que ela tinha tido um bebê. Uma... – ele franziu o rosto numa expressão de nojo – mestiça.

-Mestre, perdoe nos... – sussurrou o homem ao lado da moça, com a voz trêmula.
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Contos e Encontros Anormais

Contos e Encontros Anormais - Capítulo IV


Miranda Scarlet entrou no Necrotério Municipal precisamente às 15:00 h. Mesmo após mais de uma semana da morte da professora, ainda havia muita coisa a ser feita. 

Miranda vestia um vestido preto que lhe caía até os joelhos, coroado por um xale de mesma cor sobre os ombros. No balcão, a secretária fazia anotações quando percebeu a perita no local.

-Pois não?

-Miranda Scarlet, vim falar com Ricardo. 

-O senhor Ricardo está na sala de perícia. Ele ficará livre às...

-Preciso falar com ele imediatamente. É sobre o caso 400/1.

A secretária congelou em sua posição e arregalou os olhos, como se tivesse visto um fantasma. Sem pestanejar, pegou o telefone e discou o ramal da sala de perícia.

-Senhor Ricardo? A senhorita Scarlet está aqui. Sim, caso 400/1. - Então, a secretária desliga o telefone e volta os olhos para Miranda. - Pode entrar. Terceira sala à direita. 

Na mesa central da sala, o corpo da professora morta havia pouco mais de uma semana repousava na mesma forma assustadora que fora encontrado. O rosto começara a se putrefar adquirindo um tom cinza-esverdeado. A boca fora costurada e as pálpebras fechadas, porém a coluna ainda estava torta para trás num ângulo acentuado. Miranda não se incomodava com o corpo, nem com a sensação de estar num lugar repleto deles. Caminhou em direção ao legista, que fazia anotações numa mesa próxima à mesa de análises. 

-Ricardo.

-Miranda, esperava que viesse mais cedo.

-Imprevistos, apenas. O que temos aqui? Não tive tempo para analisar a situação do jeito que encontrei o corpo.

-Na verdade, há algo muito curioso que quero que você veja.

Ricardo dirigiu-se ao corpo da professora, e puxou um pouco a manta mortuária que cobria o cadáver. Na garganta, marcas de unhas jaziam profundas na pele da professora, juntamente com hematomas e sinais de luta.

-Vê a garganta? 

-Alguém a arranhou?

-Não. Encontrei pele debaixo das unhas dela, e batem com a pele do pescoço. Ela mesma se arranhou, como se lutasse desesperadamente por ar.

-Algo obstruiu as vias respiratórias?

-Longe disso. O pulmão está limpo, a laringe e a garganta totalmente livres. Os brônquios dela simplesmente fecharam, e a única explicação que vejo para isso é envenenamento. Ela deve ter respirado uma quantidade grande de gás nocivo para que morresse tão drasticamente. 

-Um gás venenoso pode explicar a morte, porém não explica o estado do corpo. Como a coluna dela chegou a esse ângulo?

-Pra ser sincero, Miranda, não faço a mínima ideia do que aconteceu. Algo muito forte torceu a coluna dela, isso é certo. Porém não sei o que pode ter sido, mas sei que foi alguém muito forte para deixar nesse ângulo horrendo. 

-Achou mais alguma coisa, Ricardo?

-Sim, achei. A mão dela está tensionada numa posição anormal, como se estivesse apontando para algum lugar. Se entendi bem o modo como o corpo foi achado, ela deveria estar apontando na direção da porta do laboratório de informática.

-Alguma explicação para isso?

-É uma posição pre-mortem, totalmente voluntária. Ela morreu com a mão apontando para algum lugar, e os músculos se retesaram desse modo. 

-Assim que tiver respostas sobre a causa-mortis me ligue que virei o mais rápido possível.

-Qual o próximo passo?

-Você disse que alguém forte torceu a coluna da professora, certo? Pois bem, está na hora de enquadrar alguns tipos que correspondem a este perfil!
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